quarta-feira, 13 de janeiro de 2010
Um Sonho Libertador
Posso contar-lhe o sonho que tive? Não podia fazê-lo com mais ninguém, perturbou-me tanto…!
Sabe, ao contrário de outros que tenho tido ultimamente, não o vivi com angústia. Fico até preocupada, não me senti nada culpada, até fiquei furiosa quando acordei! Parecia que queria ter ficado lá…
Sonhei que quando saí do trabalho não tinha ido para casa. Em vez de, atrasada como sempre, largar o escritório a correr com um aperto no peito a pensar no L. que estava à espera no infantário, permaneci com toda a calma do mundo, como não me lembro desde sempre. Estava um nevoeiro agradável e percorri o Chiado a olhar para as montras. Comprei um livro sem sequer pensar se estava a gastar mal o dinheiro. De seguida entrei numa perfumaria e encontrei o meu perfume preferido, o meu cheiro! Do tempo em que namorei com o A. Sabia que o C. não ia gostar mas nem sequer me preocupei…nem tão pouco com o que iria “ouvir dele” acerca de “gastos fúteis”. (Afinal os miúdos precisam comprar roupa de Inverno e os poucos extras vão todos para a casa de campo que há anos estamos a construir. Claro, a maior parte do dinheiro vem dos meus pais, mas não lho atiro à cara, às vezes penso que devia fazê-lo…)
Mas continuando o sonho, telefonei ao C. e disse-lhe que não ia jantar. Ele ficou em pânico, perguntou-me quase aos gritos sobre o que se estava a passar comigo e o que é que iria dizer aos miúdos!? E eu desliguei. E atirei com o telemóvel para o primeiro caixote do lixo que encontrei! (estranho, gosto tanto dele, foram os meus sogros que mo ofereceram no último aniversário do meu casamento!) Mas sabe o que foi mais estranho no sonho? Ao olhar para uma montra vi a sombra de T., o meu colega de Universidade que se metia comigo de uma forma tão atrevida! (chegava mesmo a incomodar-me, ficava furiosa comigo mesmo quando corava). Então, entrei na sua sombra e deixei-me ir. Não sei para onde, apenas sei que quando acordei, estava a sorrir… (C. nem acreditava que era tão tarde e que eu não tinha ouvido o despertador!! Os miúdos estavam atrasadíssimos e ele também…!)
Foi mesmo estranho!
Procurei que M. pensasse no(s) sentido(s) que encontrava no que acabava de descrever.
Que eventualmente criasse pontes com a última sessão. Dizia-me ela então:
- Gosto de C., foi o único homem da minha vida e é o pai dos meus três filhos. Mas ultimamente tenho-me estranhado a interrogar se com outro homem também estaria a olhar para a televisão sem nada para dizer ao fim destes dezasseis anos de casamento? Fora os de namoro…
Não lhe disse como é óbvio o que me ia no pensamento quando me despedi uma vez mais dela. Lembrava-me de Freud quando aludia ao sonho como a “realização alucinatória do desejo”.
Álvaro Ferreira (publicado na Pais & Filhos - Jan 2010)
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