terça-feira, 29 de julho de 2008

aviso à navegação

A experiência (kafkiana) da Mãe do Ricardo, faz sublinhar: NÃO viagem para a União Europeia SEM o Cartão Europeu de Seguro de Saúde.

Porque, como aconteceu a ela, o filho foi recusado num serviço público, apesar do BI português e foi parar a um particular, onde a abordagem (e os custos) foram... nem é preciso dizer mais nada.

segunda-feira, 28 de julho de 2008

Deonilde

Deonilde

Deonilde vive o dia a dia. Sobrevive dia a dia. Não sonha em cada dia….

- Já disse para te deitares! Amanhã levantas-te cedo. Depois é que são elas! Digo-te sempre o mesmo..!

O filho parece não acreditar no seu cansaço. Pelo ralhar contínuo ou porque não entende o seu desespero?

- Já tão tarde e ainda tanto para arrumar, maldito T1 que parece crescer…!

Na verdade só no que toca ao trabalho. De resto, todo ele parece, em versão mais feia, a arrecadação da casa que vê na novela antes de adormecer. Ah, hoje pelo menos vai vê-la, o marido, no turno da noite, não a irá incomodar com o seu hálito rançoso..!

Amanhã vai ao médico, uma vez mais um rol de queixas…se ao menos ele olhasse para ela, parece já duvidar das suas dores, por todo o lado e sem se verem!

Deonilde não sonha em cada dia…

- Sr. Dr., dói-me tudo, parece que cada vez estou pior…; foi o meu pai, depois a minha sogra, agora o meu marido. Na verdade nem posso falar mal dele, verdade seja dito nunca me bateu. Ai, Dr., mas o que faço com estas dores? E aquele miúdo, não sei a quem sai, ninguém lhe põe a mão. O pai nunca está, ou, então, ai de quem lhe interrompa o futebol mais a maldita cerveja…ai Dr., acordo mais cansada do que quando adormeço, dê-me qualquer coisa para as dores…ai. Dr., ai Dr……

Deonile sobrevive todos os dias…

Das nove às cinco à secretária, o trabalho é muito e pouco ganha. Quando está para sair há sempre tarefas inadiáveis. O patrão, de gravata em riste, é homem de poucas falas. Até hoje não lhe perdoa ter ficado de baixa aquando da morte do pai – tristeza não é doença, isso é mal para ricos..!, vociferava anafado e escarlate.

Deonilde está cansada todos os dias….

Em casa começa novo turno de trabalho. “Pica o ponto” às seis, quando vai buscar o filho à escola. – o teu pai bem podia por as cuecas no cesto, e tu, já tens idade para fazeres qualquer coisa!
Ao menos hoje pode ver a novela em paz, ele foi ver o futebol p’ró café, espera que venha já com ela a dormir….

Deonilde sobrevive(u) mais um dia!

terça-feira, 22 de julho de 2008

Hoje estamos mais livres! Menos um carniceiro solto!



O dia hoje brilha mais! Foi preso Radovan Karadzic. Falta o seu "amigo" Ratko!!Para quem não se recorde, este senhor, debaixo do seu penteado e de "ar honesto", aceitou / deu ordem, para o Massacre de Srebrenica, no qual todos os homens e rapazes (entre outras atrocidades), foram separados, levados, mortos e enterrados em valas comuns. Para que não se esqueça!!!

Carta aos Avós


O ESCA está a ter mais profissionais/avôs. O último é o nosso pediatra, Mário Cordeiro (completamente "babado").
A Psicoterapeuta do ESCA, Eduarda Carvalho, recolheu este texto que dedica a todos os avós do ESCA (profissionais e utentes)

Definição de Avó

Artigo redigido por uma menina de 8 anos e publicado no Jornal do
Cartaxo.Uma delícia!


"Uma Avó é uma mulher que não tem filhos, por isso gosta dos filhos dos
outros.
As Avós não têm nada para fazer, é só estarem ali.
Quando nos levam a passear, andam devagar e não pisam as flores
bonitas nem as lagartas.
Nunca dizem "Despacha-te!". Normalmente são gordas, mas mesmo assim
conseguem apertar-nos os sapatos.
Sabem sempre que a gente quer mais uma fatia de bolo ou uma fatia maior.
As Avós usam óculos e às vezes até conseguem tirar os dentes.
Quando nos contam historias, nunca saltam bocados e nunca se importam
de contar a mesma história várias vezes.
As Avós são as únicas pessoas grandes que têm sempre tempo.
Não são tão fracas como dizem, apesar de morrerem mais vezes do que nós.
Toda a gente deve fazer o possível por ter uma Avó, sobretudo se não
tiver Televisão".

terça-feira, 8 de julho de 2008

um caso exemplar, e muitas lições...

O que podemos dizer aos nossos filhos sobre o caso de Ingrid Betancourt? Além de tudo o que tem sido relatado, para lá do que a própria tem dito, o que pensarão as crianças disto tudo?

É difícil esconder dos mais novos que rebentou um homem-bomba no Iraque, ou que as medidas norte-americanas no Afeganistão apenas prolongam o sofrimento dos inocentes e potenciam o comércio da heroína. É difícil esconder que enquanto a União Europeia decide o tamanho da sardinha ou do croquete, pessoas de carne e osso ficam no desemprego e algumas delas passam fome ou terminam com a vida.

Mas há casos que, pelo seu mediatismo, se tornam exemplos, modelos, únicos, repetidos muitas vezes até á exaustão.
Ingrid Betancourt foi raptada no momento em que exercia um dos mais nobres direitos: a liberdade de se candidatar à presidência da república. E a liberdade (e a coragem) de denunciar prepotências, latrocíncios, corrupção e exercícios perversos do poder.

Imaginem, cá em Portugal, Cavaco, Soares ou Alegre serem raptados e estarem seis anos em parte incerta, temendo-se pela sua vida, e só poderem ver a liberdade depois de uma genial operação militar. Tentem pensar nisso. Provavelmente, para a maioria das crianças e dos jovens, não é concebível um cenário assim fora do ficcional ecrã televisivo.

O que mais espanta e será mais difícil de explicar, será a posição de algumas pessoas, designadamente do partido comunista português e dos seus membros. Não vou tecer aqui comentários políticos, mas não me coíbo de afirmar, claramente, que é bom os pais comentarem com os filhos o assunto. É bom dizerem que, no país em que vivemos, e em que tudo parece correr bem, pese embora algumas reclamações (de quem se pode dar ao luxo de pertencer aos dez por cento de cidadãos mais ricos e afluentes do mundo), há pessoas e pelo menos um partido com assento parlamentar que aprovam implicitamente raptos, tortura, e que “qualquer fim justifica os meios”, convidando para a sua casa (a sua Festa) elementos de bandos terroristas. Mesmo que depois digam representar a população na defesa dos seus interesses – até os raptar, se for caso disso!

Se Jerónimo de Sousa fosse raptado por uma milícia armada, o que diria o PCP? E os que nele estão inscritos? E os que nele votam? E os que o toleram?

As nossas crianças têm que aprender a viver com isso. Para saberem distinguir o trigo do joio. Para conhecerem a realidade que “os amanhãs que cantam” produziram nos países da órbita soviética: miséria, exploração, ausência de liberdade e repressão, para glória e abastança de membros do partido, tendo terminado em regimes proto-fascistas e governados pelas máfias.

A história de Ingrid Betancourt, no que reporta às crianças portuguesas, tem muito a aproveitar. Para que aprendam que há Bem e que há Mal, que há ética, que não serve dizer estar-se do lado do povo, quando se pensa estar acima dele. Que não se pode estar ao mesmo tempo dos dois lados da barricada…

truz, truz, está alguém aí?...

domingo, 6 de julho de 2008

Mulher Coragem!


(...) na última carta à mãe tinha dito:"Estou, mãezinha, cansada, cansada de sofrer. Fui, ou tentei ser, forte. Estes quase seis anos de cativeiro mostraram como não sou resistente, nem tão valente, nem tão inteligente, nem tão forte como pensava. Dei muita luta e tentei escapar em várias oportunidades, tentei manter a esperança como quem mantém a cabeça fora de água. Mas, mãezinha, dou-me por vencida [...]"
Na parte mais dramática da carta, em que dizia estar "cansada de sofrer", confessava que a morte lhe parecia "uma doce opção". Dormia sobre esteiras, debaixo de um mosquiteiro. Por ter tentado fugir várias vezes, sem nunca conseguir passar os três anéis de segurança que os serviços de informação militares conseguiram agora furar, passou noites acorrentada.
Era obrigada a longas caminhadas. Confessava-se "fisicamente mal", que perdera o apetite, que não comia. Era vigiada de demasiado perto por guerrilheiros quando se lavava. Um dia, por castigo de rebeldia, também lhe tiraram o papel e o lápis com que escrevia - só lhe deixaram a Bíblia, a que chamava o seu "luxo", que lia e relia.
"Mãezinha, dou-me por vencida!"(....)

Mas Ingrid Betancourt ali estava, a sorrir, aparentemente com saúde e abraçada aos filhos.(...)
"Sinto-me feliz por voltar a estar com os meus filhos depois de sete anos", disse a ex-cativa com a voz cheia de lágrimas, a olhar ora para Mélanie ora para Lorenzo. "São os meus filhos, o meu orgulho, a minha razão de viver, a minha Lua, as minhas estrelas. [...] Por eles continuei apostada em sair da selva, com a ilusão de voltar a vê-los." (....)

Público. 4 de Julho de 2008