domingo, 6 de julho de 2008

Mulher Coragem!


(...) na última carta à mãe tinha dito:"Estou, mãezinha, cansada, cansada de sofrer. Fui, ou tentei ser, forte. Estes quase seis anos de cativeiro mostraram como não sou resistente, nem tão valente, nem tão inteligente, nem tão forte como pensava. Dei muita luta e tentei escapar em várias oportunidades, tentei manter a esperança como quem mantém a cabeça fora de água. Mas, mãezinha, dou-me por vencida [...]"
Na parte mais dramática da carta, em que dizia estar "cansada de sofrer", confessava que a morte lhe parecia "uma doce opção". Dormia sobre esteiras, debaixo de um mosquiteiro. Por ter tentado fugir várias vezes, sem nunca conseguir passar os três anéis de segurança que os serviços de informação militares conseguiram agora furar, passou noites acorrentada.
Era obrigada a longas caminhadas. Confessava-se "fisicamente mal", que perdera o apetite, que não comia. Era vigiada de demasiado perto por guerrilheiros quando se lavava. Um dia, por castigo de rebeldia, também lhe tiraram o papel e o lápis com que escrevia - só lhe deixaram a Bíblia, a que chamava o seu "luxo", que lia e relia.
"Mãezinha, dou-me por vencida!"(....)

Mas Ingrid Betancourt ali estava, a sorrir, aparentemente com saúde e abraçada aos filhos.(...)
"Sinto-me feliz por voltar a estar com os meus filhos depois de sete anos", disse a ex-cativa com a voz cheia de lágrimas, a olhar ora para Mélanie ora para Lorenzo. "São os meus filhos, o meu orgulho, a minha razão de viver, a minha Lua, as minhas estrelas. [...] Por eles continuei apostada em sair da selva, com a ilusão de voltar a vê-los." (....)

Público. 4 de Julho de 2008

Sem comentários: