terça-feira, 8 de julho de 2008

um caso exemplar, e muitas lições...

O que podemos dizer aos nossos filhos sobre o caso de Ingrid Betancourt? Além de tudo o que tem sido relatado, para lá do que a própria tem dito, o que pensarão as crianças disto tudo?

É difícil esconder dos mais novos que rebentou um homem-bomba no Iraque, ou que as medidas norte-americanas no Afeganistão apenas prolongam o sofrimento dos inocentes e potenciam o comércio da heroína. É difícil esconder que enquanto a União Europeia decide o tamanho da sardinha ou do croquete, pessoas de carne e osso ficam no desemprego e algumas delas passam fome ou terminam com a vida.

Mas há casos que, pelo seu mediatismo, se tornam exemplos, modelos, únicos, repetidos muitas vezes até á exaustão.
Ingrid Betancourt foi raptada no momento em que exercia um dos mais nobres direitos: a liberdade de se candidatar à presidência da república. E a liberdade (e a coragem) de denunciar prepotências, latrocíncios, corrupção e exercícios perversos do poder.

Imaginem, cá em Portugal, Cavaco, Soares ou Alegre serem raptados e estarem seis anos em parte incerta, temendo-se pela sua vida, e só poderem ver a liberdade depois de uma genial operação militar. Tentem pensar nisso. Provavelmente, para a maioria das crianças e dos jovens, não é concebível um cenário assim fora do ficcional ecrã televisivo.

O que mais espanta e será mais difícil de explicar, será a posição de algumas pessoas, designadamente do partido comunista português e dos seus membros. Não vou tecer aqui comentários políticos, mas não me coíbo de afirmar, claramente, que é bom os pais comentarem com os filhos o assunto. É bom dizerem que, no país em que vivemos, e em que tudo parece correr bem, pese embora algumas reclamações (de quem se pode dar ao luxo de pertencer aos dez por cento de cidadãos mais ricos e afluentes do mundo), há pessoas e pelo menos um partido com assento parlamentar que aprovam implicitamente raptos, tortura, e que “qualquer fim justifica os meios”, convidando para a sua casa (a sua Festa) elementos de bandos terroristas. Mesmo que depois digam representar a população na defesa dos seus interesses – até os raptar, se for caso disso!

Se Jerónimo de Sousa fosse raptado por uma milícia armada, o que diria o PCP? E os que nele estão inscritos? E os que nele votam? E os que o toleram?

As nossas crianças têm que aprender a viver com isso. Para saberem distinguir o trigo do joio. Para conhecerem a realidade que “os amanhãs que cantam” produziram nos países da órbita soviética: miséria, exploração, ausência de liberdade e repressão, para glória e abastança de membros do partido, tendo terminado em regimes proto-fascistas e governados pelas máfias.

A história de Ingrid Betancourt, no que reporta às crianças portuguesas, tem muito a aproveitar. Para que aprendam que há Bem e que há Mal, que há ética, que não serve dizer estar-se do lado do povo, quando se pensa estar acima dele. Que não se pode estar ao mesmo tempo dos dois lados da barricada…

5 comentários:

Anónimo disse...

Para quem não desejava tecer comentários politicos parece-me que foi bastante longe! Nada contra...respeito opiniões contrárias e gosto de conhecer todos os argumentos sobre diferentes posições. E por isso mesmo decidi comentar, permita-me que transcreva o comunicado do pcp a propósito do rapto de Ingrid:

"Sobre a operação de resgate de Ingrid Betancourt na Colômbia
Quinta, 03 Julho 2008
Nota do Gabinete de Imprensa do PCP

Em resposta a várias solicitações dos órgãos de comunicação social sobre a posição do PCP a propósito da operação de resgate de Ingrid Betancourt por parte do exército nacional na Colômbia, o PCP considera o seguinte:

1. O resgate de Ingrid Betancourt após um período em que esteve prisioneira na selva colombiana, coloca em evidência a gravidade da situação em que se encontram centenas de prisioneiros em ambos os lados do conflito e a necessidade de encontrar uma solução humanitária entre as partes.

2. Os complexos problemas em presença, exigem uma solução política e negociada de um conflito que se arrasta há mais de 40 anos sem solução, situação que é em si, inseparável da política de agravamento da exploração e de terrorismo de estado praticada pelo governo neo-fascista de Uribe, conforme tem vindo a ser denunciado pelas forças progressistas e democráticas da Colômbia.

3. O Povo colombiano poderá continuar a contar com a solidariedade dos comunistas portugueses na sua luta contra a opressão".

Já agora permita-me dizer que sou comunista e mãe e que também prefiro e defendo a verdade. Sou contra raptos e actos de terrorismo e luto por um mundo melhor e mais digno por mim, pela minha filha e por todos nós!

Anónimo disse...

http://www.pcp.pt/index.php?option=com_content&task=view&id=32193&Itemid=196

Elisete disse...

Consulto este blogue quase diariamente e desde há algum tempo. Por diversas vezes quis tecer comentários a algumas publicações ou mesmo a outros comentários mas abstive-me sempre de o fazer por razões várias. Mas desta vez, não consigo ficar, simplesmente, de “braços cruzados”.
Sou um ser humano, mulher e Mãe e não prefiro ou defendo a verdade: exijo a verdade acima de tudo! Exijo que qualquer partido do meu País, seja ele comunista, fascista ou o raio que seja, denuncie claramente situações como esta, sem meias medidas, sem meios termos, sem mais palavras, sem nada para se ler nas entrelinhas.
Ingrid Betancourt desperdiçou seis anos de vida, dela, dos filhos e, acima de tudo, e o que é mais importante para mim, seis anos como Mãe, educando, apoiando e abraçando os seus filhos. E, isto, por ter querido lutar por um mundo melhor e mais digno por mim, pelo meu filho e por todos nós! E, isto, enquanto pessoas que dizem querer lutar por um mundo melhor, agitam flores e fazem festas e limitam-se a escrever textos bonitos e politicamente correctos.
O mínimo que eu posso fazer, já que não tenho a coragem de Ingrid Betancourt, é rejubilar com a sua libertação e mostrar ao meu filho que, por vezes (esperemos que muitas), o Bem vence o Mal (na vida real, não só nos filmes e desenhos animados) e que nós devemos sempre defender o Bem, venha ele de onde vier.

Anónimo disse...

Pelos visto conhece pouco sobre a luta do partido comunista português, festas e flores também mas muita luta e muita defesa pela melhoria da qualidade de vida dos portugueses e a luta por uma coisa que lhe permite "tecer" comentários....a LIBERDADE!

All Varo disse...

Parabéns Mário pela sua coragem e cidadania! Não é fácil falar-se clara e abertamente sobre instituições que se barricam em "condomínios fechados" ideológicos e que precisam, como "pão para a boca", de fazer perdurar os (seus) dogmas. Neste blogue já houve a coragem de tocar nos dogmas de diferentes instituições.
Todos têm direito a reivindicar-se como promotores da liberdade, e obviamente nesses estarão cidadãos comunistas, de direita, cristãos, muçulmanos, agnósticos,.... A liberdade não tem patente!!
Ingrid é um símbolo e, nas poucas horas de liberdade, já demonstrou como o sentido da liberdade, de justiça e de respeito pelo(s) Outro(s) lhe "corre nas veias". Não projectando a sua raiva e ódio nos seus algozes, antes preocupando-se por todos que se mantêm privados da sua liberdade e de estar com os que mais amam. Ingrid, tal como Mandela, entre muitos outros! Pessoas como estas mostram como a humanidade e o nosso mundo tem um enorme potencial! Também pessoas que têm coragem de dizer, com todas as letras, que as FARC, bem como muitas outras associações (esqueda, direita, religiosas, governamentais...), não passam de um bando de terroristas, assassinos que infelizmente levam "palmadinhas nas costas" consoante os interesses de alguns. E, neste caso, a actuação do PCP foi claramente vergonhosa, medrosa e pouco livre!
Felizmente que o nosso mundo tem muitas Ingrids, muitos Mandelas, que não vivem de (e à sombra) "comunicados oficiais" e que não põe os seus interesses pequeninos antes das pessoas!